“É preciso mudar a relação que os prestadores de serviços da área de saúde têm com as operadoras. As coisas são feitas de forma empírica. Falta preparo, coisa que as operadoras têm cada vez mais. Temos que nos profissionalizar”, afirma Hernani Kruger, representante da Federação de Hospitais do Estado de Goiás (Fehoesg).
A declaração foi feita durante o “Debate com Lideranças”, promovido pela Ahseb, Febase e Ucas, na tarde desta terça-feira, 12, no Fiesta Bahia Hotel, em Salvador.
O evento, que reuniu representantes de hospitais de oito estados com assento no Departamento de Saúde Suplementar da CNS, foi para discutir questões relacionadas às novas regulamentações da ANS e da Anvisa. São elas: a Lei 13.003 e RNs 363 e 364, da ANS, que tratam da contratualização dos prestadores; a RDC 36 da Anvisa, que institui o núcleo de segurança do paciente; e o novo modelo da TISS/TUSS, da ANS.
Segundo Kruger, para discutir e pôr em prática tais mudanças, é preciso antes de tudo que os prestadores comecem a olhar para o próprio umbigo. “Precisamos nos profissionalizar. Se isso não acontecer, os hospitais vão fechar ou serão explorados pelas operadoras”, continuou.
Para Braz Vieira, da Federação de Hospitais de Santa Catarina (Fehoesc), essa situação ocorre porque os prestadores mantêm uma relação de passividade com as operadoras. “Há um comodismo de ficar à espera de soluções das entidades representativas”, avaliou.
Na opinião da coordenadora pedagógica da Ucas, Cileda Azevedo, há muito amadorismo no setor, o que resulta em gestões hospitalares feita de “qualquer forma”. “Ah, mas a maioria sobrevive. Sim, sobrevive porque existe demanda espontânea. Ou seja, tem doente, vai sobreviver. O mercado precisa de profissionais qualificados.”
O representante da Federação dos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro (Feherj), João Lucena, diz acreditar que os prestadores ainda não estão prontos para mudar. “É uma cultura que não muda.”
ATUAÇÃO POLÍTICA
De acordo com Braz Vieira, esse cenário de amadorismo foi traçado porque, enquanto os prestadores agem com passividade, as operadoras agem com agressividade.
E convocou o segmento para ter uma atuação política mais forte. “É preciso chegar para as lideranças políticas em geral e dizer: ‘Estamos aqui, observando o trabalho de vocês’. Tem que haver uma maior representatividade das associações, sindicatos e federações”, disse.
A opinião foi reiterada pelo diretor executivo da Federação Hospitais Estado Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul (Fehosul), Flávio Borges. “Temos que fazer a nossa parte. Se não lançarmos desconfiança sobre essas novas regulamentações, que querem nos tornar mais eficientes, pode ser bom ou ruim, se não tomarmos as devidas providências.”
Já Cícero Andrade, assessor técnico da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess), cobrou a presença dos donos de hospitais em eventos em que se discute estratégias para atuação no mercado. Conforme Andrade, para que haja poder de decisão sobre as medidas propostas, é necessária a presença dos donos de hospitais.
CAPACITAÇÃO
A superintendente da Ahseb, Maísa Demenech, por sua vez, defendeu mais investimentos em capacitação profissional. Ela destacou as parcerias que a entidade vem firmando com as universidades para oferecer especializações voltadas a profissionais que atuam na área de saúde na Bahia. “Estamos investindo na Ucas, que é a nossa universidade coorporativa, para ofertar cursos de pequena, média e longa durações.”
Ao fim do evento, o presidente da Febase e vice-presidente da Ahseb, Marcelo Britto, ressaltou a importância das discussões levantadas durante o “Debate com lideranças”.
“Hoje, tivemos aqui representantes de oito estados brasileiros. Assessores técnicos, assessores que representam os hospitais na ANS, na Anvisa, no Ministério da Saúde e no Congresso Nacional que vieram ouvir a base. Saber efetivamente qual é o desejo, a necessidade e o que está acontecendo em Brasília. Quais são os rumos que a saúde do Brasil está adotando e, principalmente, o que a ANS está indicando: reajustes, contratos, comitês de segurança do paciente, regulamentações da Anvisa. Aguardamos agora o retorno dessas instituições. E que a CNS deve, por meio de seus sindicatos e federações, levar para esses órgãos nacionais”, afirmou Britto.