Entretanto, investidores estrangeiros são seletivos nas operações de fusão e aquisição. Entre os principais requisitos para os negócios estão escala de atendimento e também governança
Vivian Ito
São Paulo – A entrada de capital estrangeiro no setor de saúde deve levar a uma consolidação no setor de hospitais, trazendo mais profissionalização e aportes em tecnologia. Mas, para especialistas, o cenário macroeconômico, a escala de leitos e a falta de governança corporativa ainda são desafios.
“Estamos vendo muito interesse, mas é difícil achar ativos”, afirma a sócia diretora da consultoria americana McKinsey & Co, Tracy Francis De acordo com a porta-voz, o principal entrave observado pelos investidores na hora de realizar fusão ou aquisição nesta área é a escala, uma vez que no Brasil o número médio de leitos por hospital é de 56. “As empresas estão analisando hospitais com mais de 100 leitos”, diz Tracy.
O segundo fator, que apesar de ser muito procurado é difícil de encontrar, diz ela, é o da governança corporativa. Tendo em vista os desafios para a consolidação do mercado, a executiva acredita que a velocidade da mudança será bastante gradual com poucas transações em 2015. Mas a tendência é que empresas de setores adjacentes tenham interesse em entrar neste mercado.
“O Brasil possui o terceiro maior mercado privado de saúde e terá uma população de idosos três vezes maior nos próximos 20 anos e além de um déficit de 13,7 mil leitos para 2016”, explicou a porta-voz ontem durante o encontro da empresa de Gestão de Projetos em Saúde (GpeS) na Feira Hospitalar 2015 realizada no Expo Center Norte em São Paulo.
Mesmo que o investimento seja alto e de longo prazo, o cenário econômico atual está impactando diretamente a confiança dos empresários estrangeiros. “Se agora fosse 2004, a mudança radical que todos estão esperando poderia ocorrer, mas a crise está testando a convicção dos investidores. Isso porque o investimento pode ser bom a longo prazo, mas impacta também no agora”, ressalta o diretor de novos negócios da Rede D’Or São Luiz, Carlos Costa.
Qualificação
Ainda para o especialista, o lado positivo da situação é o fato de ser um momento de formar melhor a opinião dos investidores e colocar no mercado profissionais mais qualificados. “Além disso, vemos uma movimentação de empresas de saúde se profissionalizando e preparando para se colocar à venda o que para nós é bom. Estamos focando em uma região, abrimos o leque para observar as oportunidades do mercado neste momento e podemos fazer alguma coisa ainda este ano”, informou Costa.
“Operações de fusão e aquisição são importantes para a consolidação do setor. Vemos que o Brasil está sofrendo bastante assédio de investidores, mas para fazer negócio deve-se olhar para dentro com muita atenção”, diz o diretor de novos negócios.
Costa explica que um parâmetro para medir o valor de uma empresa de saúde é a quantidade de vezes que seu Ebitda (lucro antes de impostos, depreciação e amortização na sigla em inglês) pode ser multiplicado para calcular seu preço. No caso de hospitais, a média é de 8 a 10 vezes, laboratórios de sete a nove vezes e as clínicas podem valer de seis a sete vezes o Ebitda. “Mas a margem do setor no País deve ser de oito, no máximo as mais consolidadas chegam a 9.”
“Deve-se fazer um pacote de informações que inclui valuation, lista de potenciais compradores, estabelecer um cronograma, fazer um teaser destacando os principais pontos fortes da empresa. Conhecer um valor e estabelecer o valor real é imprescindível para o iniciar o processo”, afirmou o advisor em M&A da Crescente Consultoria, Marcelo Pinheiro Soares.
Segundo ele, contratar um advisor que eleve a realidade da companhia não ajuda, já que o valor estabelecido pelo comprador irá acompanhar o mercado e uma má avaliação pode criar expectativas em ambos os lados.
Ganhos
De acordo com o business profile do BTG Pactual, Rodrigo Pavan, a possibilidade de entrada de investimentos estrangeiro incentiva os hospitais a investirem a longo prazo. “Isso irá fazer com que os donos se preocupem mais com geração de valor do que fluxo de caixa puxando o investimento em inovação e crescimento da empresa” explica.
Segundo ele, isso deve mudar a dinâmica de mercado e saúde e criar espaço para vários outros segmentos crescerem. O executivo afirma que no Brasil 46,8% dos aportes em saúde são do setor público, enquanto que nos Estados Unidos (EUA) o índice é de 35,5%. “Dos gastos com saúde nos EUA, uma parte é feita em segmentos adicionais de cuidado como home care, o que tem possibilitado a redução do uso de hospitais”, analisa Pavan.
A lei que abriu a possibilidade de investimento em hospitais, antes proibida até para pequenas participações, também liberou a entrada do capital estrangeiro em entidades filantrópicas.
“Isso será difícil pelo fato de não possuir fins lucrativos, mas a parceira entre a empresa sem fins lucrativos e o investidor estrangeiro podem ocorrer na formação de uma nova sociedade onde cada um tenha um papel”, explicou o advogado especializado em saúde da Nunes & Sawaya, Renato Nunes sobre a possibilidade de um novo nicho de negócio. Para o executivo, em qualquer caso de fusão ou aquisição, é imprescindível procurar por bons parceiros.
Fonte: DCI/SP: 20/05/2015