Percentual de cirurgias na rede particular é o inverso do recomendado pela OMS
Dados da Federação Baiana de Saúde (Febase) indicam que 85% dos partos realizados na rede privada da Bahia são cesarianos e 15% são normais. O índice é proporcionalmente inverso ao indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos por meio do procedimento cirúrgico.
A taxa nacional é ainda maior do que a baiana. No Brasil, em cada 100 partos, 88 são cesarianas. Estes dados, considerados alarmantes por autoridades de saúde, integram a pesquisa “Nascer no Brasil”, que será lançada nesta sexta-feira, 29, às 9h, no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-Ufba), no Canela.
O estudo, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entrevistou 24 mil mulheres e foi executado em maternidades públicas, privadas e mistas.
A pesquisa incluiu 266 hospitais de médio e grande portes, localizados em 191 municípios.
Todas as capitais dos estados brasileiros foram incluídas, além de cidades do interior.
Somados os nascimentos nas redes pública e privada do Brasil, a cesariana é realizada em 52% dos casos, segundo o levantamento.
Para a coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, a cesariana representa um risco a mais para mulheres e bebês.
“O índice elevado se deve a uma cultura arraigada no Brasil de que o procedimento é a melhor maneira de se ter um filho. Em parte porque, no Brasil, o parto normal é realizado com muitas intervenções e dor”, afirma a pesquisadora.
Mudança
O levantamento aponta que 70% das mulheres pesquisadas desejavam o parto normal quando engravidaram. Entretanto, 52% delas passaram por cesariana. Na rede de saúde privada, apenas 15% das que desejavam tiveram parto normal.
“Há, certamente, uma influência do pré-natal na decisão das mulheres pelo tipo de parto, mas as amigas e os familiares também influenciam. Não se pode, entretanto, deixar de destacar que é uma visão equivocada achar que a cesariana é a forma mais segura para parir”, explica Maria do Carmo.
O presidente da Febase, Marcelo Brito, diz que uma parcela das cesarianas é opção da paciente, e outra parte, pela dificuldade de conseguir vagas em leitos de obstetrícia. “Muitas mulheres ficam com receio de não conseguir vaga e preferem marcar o dia, para garantir o leito”, afirma.
Ele conta que os hospitais dão preferência a leitos para serviços de alta complexidade em detrimento de obstetrícia. “Os repasses dos convênios são muito baixos”, completa Brito.
Doutora em saúde coletiva, a professora do ISC Estela Aquino, que coordena o evento desta sexta, ressalta que os dados apontados pela pesquisa poderão alimentar as políticas públicas de saúde.
Ela afirma que a cesariana é um recurso fundamental para casos de complicação, em que a vida da mulher ou do bebê esteja em risco: “Um dos pontos do estado é a influência da cesariana no parto prematuro, que tem influencia negativa no desenvolvimento do bebê”.
Rede pública
Na Bahia, 63% dos partos realizados na rede pública foram normais, enquanto 37% tiveram a interferência cirúrgica. No Brasil, o índice de nascidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi de 46%.
Manoel Miranda, coordenador da Rede Cegonha, afirma que, nas unidades hospitalares de média complexidade, o índice de cesarianas chega a ser menor do que o indicado pela OMS. “Nos hospitais de alta complexidade, como o Roberto Santos, já conseguimos reduzir o número de cesarianas”, afirma.
Segundo ele, o estado também realiza um trabalho no interior do estado. “Estamos abrindo leitos com enfermeiros obstetras, que já é meio caminho andado para se ter um parto normal”, diz.
Fonte: Jornal A Tarde